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CRITICAS

 8o FENATIFS - Outubro/2015

Sananab

Palhaço Bisgoio arrebata a todos em espetáculo exemplar

por Ricardo Schopke

 

 

Uma das maiores surpresas do 8o FENATIFS foi a apresentação da peça “Sananab”da Cia Pé de Chinelo de Ribeirão Preto/SP. Tendo como protagonista o Palhaço Bisgoio (nome sugerido por sua filha a partir da declinação do nome lambisgóia), somos transportados a um mundo de teatro-contato, recheado de números deliciosamente poéticos, mágicos, cheios de duplos sentidos, e impoliticamente corretos. Todavia, a qualidade da atuação do palhaço de Rubens Donegá Neto, que é dividida por tempos precisos, capacidade técnica, verdade, contraceno, respiração; faz de sua performance um momento único e especial. O enredo do espetáculo retrata o universo do palhaço Bisgoio, um ser ingênuo, estúpido e humano à flor da pele, que constrói situações através da manipulação de objetos. Bisgoio constrói e desconstrói tudo ao seu redor, revelando a sua essência e um jogo de relacionamento humano.

O palhaço Bisgoio mostra ótima flexibilidade em cena de “Sananab”

O espetáculo é dotado de número de equilíbrio, realizado com muita precisão

Realizado no Teatro do Centro de Cultura Amélio Amorim, o maior teatro de Feira de Santana, o espetáculo que possui apenas um carrinho – construído por materiais garimpados, e comprados, em ferros-velhos -, se agigantou e colocou toda a plateia em seu “bolso”, em seu palco e em seu carrinho. Poucas vezes vi um palhaço tão carismático, preciso, e com um domínio técnico refinadíssimo como o de Bisgoio. Todas as suas ações e gestos, foram carregados de muita verdade e relação sincera com a plateia. Números que poderiam causar algum certo desconforto – ou constrangimento -, por serem realizados por artistas menos aparelhados, com Bisgoio sentimo-nos bastante seguros no seus jogos propostos. Como elo de ligação mais forte temos as bananas do título (Sananab, bananas escritas ao contrário), que fazem muito bem a ponte entre ser um objeto, a comida, a cultura brasileira, a cor viva, e a forma fálica. Números de plateia, de palco – com espectadores da plateia -, além de um aplaudidíssimo número em que ele tira das mãos de uma espectadora o seu telefone celular – usado indevidamente no meio da peça -, e o guarda dentro de seu carrinho cenográfico. Este número já valeu por todo o espetáculo e lavou a nossa alma! Que vontade de fazer o mesmo, sempre! Tudo no espetáculo funciona com harmonia, e unidade, em todos os setores técnicos: figurino, luz, som, adereços e preparação corporal. Cada objeto utilizado na peça tem uma função especial, além de serem criadas novas figuras em cena, a partir de bexigas de ar. A cada número vivemos uma nova surpresa, que nos enche de encantamento e graça.

“Sananab” mostrou à Feira de Santana qual é o verdadeiro valor de um palhaço, quando exerce com excelência o seu ofício, e qual é o verdadeiro valor de um artista em cena. Fazendo valer com primazia a importante frase de Jerzy Grotowski sobre o ato teatral pleno: “para se fazer teatro é preciso apenas de um ator e de uma pessoa na plateia”. 

 

 

Oxandolá [In] Festa 2015

 

SANANAB, A SUBLIME ARTE DE NETO DONEGÁ


por Evill Rebouças


8º MS EM CENA  11/2014

Por Arce Correa       

 

     Um acontecimento simples, mas, nem de longe um simples acontecimento. Não sei dizer ao certo quem passava pela praça,se o palhaço ou se os transeuntes. Algo entre eles passeava e assim todos cambiaram de passantes à ficantes.

      Bisgoio é encantador de gentes. Fato muito mais inusitado do que com as serpentes. Ali com seu carrinho e suas bananas ,montou feira, comprou e vendeu verdades bobas. Partilhou fantasias e seduziu olhos sedentos . Bonito é ver o como,de cada um.Porque o que será feito já  suspeitamos e esperamos,mas o como será feito  resguarda a surpresa e no espetáculo Sananab elas são sempre gratas.

     O ser desajeitado mas muito astuto e sagaz,transita  entre esperto e bobo e beira o sacana. Isso tudo ele pode e faz sem culpa ou pudor e com todo sentimento consentido e faz sentido. Este espetáculo é um passeio pela palhaçaria simples e descomplicada do teatro e do palhaço de rua. A relação é direita e o jogo se mantem muito bem tencionados e intencionados com os expecto-atores .              Protagonizamos e coadjuvamos ao lado de Bisgoio nessa partida. Nem chegamos e nem deixamos de ir. Fica a impressão da possibilidade  de um belo e eterno jogo. Uma eterna partida, sem regresso e nem pregresso. Um eterno presente. Bisgoio se mantém presente. É um presente.

 

8º MS EM CENA  11/2014

Por Luiz Carlos Laranjeiras

 

     Trabalho de rua inspirado, apurado e sensível  das artes da palhaçaria com Biagoio, palhaço criado por Néto Donegá, artista artesão circense da rua. Na construção física e psicológica do palhaço Bisgoio é versátil,  inquieto, ingênuo, estúpido, sacana, gaiato, jogador abeto as respostas, certezas  e incertezas dos espectadores. Uso magistral dos materiais , repertorio rico, sensibilidade e prontidão na relação lúdica com o publico. Bisgoio, palhaço popular brasileiro do asfalto. Um ser miúdo, barbudo, atento a tudo na rua, que incorpora, improvisa, brinca, joga e faz delirar os espectadores num inesquecível encontro poético.

     Néto Donegá diz que o trabalho de Bisgoio está em processo de construção. Se Bisgoio é um palhaço “em obras” , sua performace na praça em Três Lagoa mostrou alicerces sólidos, composições imaginativas, interações e resoluções  inspiradas  e, principalmente, a instituição artística de um palhaço popular  brasileiro e toda a sua plenitude cômica. Bisgoio, artista artesão do riso na rua. Com Bisgoio, o grande livro do mundo é só riso, rosas, balões, bolas, abelhas, passarinhos e bananas. O mundo gira e Bisgoio encanta.

 

 

FESTVALE 10/2014

Por Chico Carvalho*

 

Quem suportaria os arroubos da sinceridade espontânea?

 

A máscara é o elemento emblemático que caracteriza a natureza humana. Somos tão adeptos dela que a vestimos em todos os instantes da vida sem disso fazer cerimônias. Somos mascarados por consciência desenvolvida, por necessidade de sobrevivência. Fôssemos nós portadores de rostos limpos, naufragaríamos na primeira esquina!Quem suportaria os arroubos da sinceridade espontânea? Falássemos sempre o que nos passa ao coração, e o destino mais certo seria a mais completa exclusão do perímetro social.Como um grande teatro que vive por conveniências e encenações programadas, a vida sustenta-se nessa escala de hipocrisias e fingimentos. O ator é o emblema poético disso: sabe que finge, e é ainda melhor quando convence os outros de que o seu fingimento é sincero, genuíno.Há aqui, portanto, outra qualidade digna de realce: em matéria de arte, gostamos e desejamos o engano! Queremos a toda custa acreditar nas mentiras que nos contam.Se o personagem é a máscara que cabe ao ator, o ator que interpreta um palhaço como personagem experimenta uma curiosa qualidade de caráter, formando ao redor da sua figura (portadora de um nariz falso!) uma moral translúcida, incapaz de mentir.Invejamos o palhaço porque ele é a reprodução literal de uma consciência precária, ainda pouco desenvolvida nas artimanhas da sobrevivência. O palhaço é essa entidade pura que a tudo reage sem julgamentos críticos ou a certeza de que suas ações sofrerão reprimendas e censuras.O palhaço tem a mesma alma da criança, dos loucos, dos velhos senis, daqueles, enfim, que margeiam o trilho da normalidade. São, portanto, todos belos e cândidos, mas, muitas vezes também cruéis e sombrios, dinamitando a ideia moralmente aceita de que há um limite entre o bom e o mau.Não há espaços aqui para essa praga de comportamento inspirada no politicamente correto.O solo do palhaço Bisgoio no espetáculo “Sananab”, trabalho levado ao Festivale pela Cia Pé de Chinelo, é algo incrível de se testemunhar exatamente por legitimar as impressões apontadas acima.Através de uma sequência de números simples, mas nem por isso destituídos de lirismo e beleza, o ator estabelece um contato direto com a plateia ao defender a esperteza dessa criatura entalhada unicamente na ingenuidade.O mundo do palhaço Bisgoio, parece, não é o mundo do futuro, das especulações, tampouco da narrativa estruturada. Tudo o que é feito é feito aos pedaços, em domínios reduzidos, havendo como intuito único satisfazer a uma necessidade que lhe é imediata e, assim, dar-nos também uma outra e importante lição: a de que o nosso baú repleto de máscaras complexas quase sempre nos afasta do tempo presente, daquilo que não conseguimos ser porque o esforço é imaginar o que ainda não pode existir.Em tempos de acúmulo de tudo (posses, dinheiro, expectativas, sonhos e projetos), o Festivale brinda o espectador com um verdadeiro espetáculo de talento no qual não há nenhuma pirotecnia, cujo vazio e os poucos recursos cênicos estão a serviço dessa outra máscara mais essencial, a que revela tudo sem nada esconder

 

 

 

8º Festival de Teatro de Juiz de Fora  09/2014

Por Joice Rodrigues de Lima*

 

É no encontro com o público que o palhaço se revela, naquele momento em que estar junto proporciona o crescimento e agrega experiências aos envolvidos. Segundo Luís Otávio Burnier (2001), “o clown é a exposição do ridículo e das fraquezas de cada um. (...). Não se trata de um personagem, ou seja, uma entidade externa a nós, mas da ampliação e dilatação dos aspectos ingênuos, puros e humanos, portanto ‘estúpidos’, do nosso próprio ser”. E, por isso, tem a capacidade de gerar tanta proximidade, permitindo-nos ser afetados pelo limiar do ridículo a que ele se expõe.

Nesse caminho de trabalho, Neto Donegá nos concede generosamente o palhaço Bisgoio, no espetáculo “Sananab”, nos últimos momentos do 8º Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora. Com uma estrutura pré-definida, mas rica em improviso, constrói situações através da manipulação de alguns objetos, lidando sensivelmente com a resposta do espectador. 

O palhaço aqui aceita e enfrenta o risco do encontro. Ele desenvolve seu discurso a partir (e em comunhão) das reações ingênuas e humanas - próprias do palhaço - que exigem coragem e empenho para serem atravessadas. 

O público prazerosamente embarca em sua viagem, construindo uma relação sensível com o acontecimento e com seu estado despretensioso, inteiro e vivo, em total escuta, revelando-se com calma e consistência, à medida que nos presenteia com a experiência de um espetáculo delicado, ingênuo e maduro no que se refere ao mergulho nesta peculiar máscara. 

Não poderia ter sido de melhor maneira para encerrar a participação dos espetáculos inscritos no festival. Foi pouco mais de uma semana de espaços de confluência, comprometidos em proporcionar a reflexão. Através do embate de opiniões, foi possível verticalizarmos nosso pensamento, aprofundando nossos olhares sobre os caminhos do fazer teatral. Dias de mergulho em percepções variadas sobre o teatro realizado hoje por veteranos e novos grupos, que, acima de tudo, assumem o risco do fazer. Reverberações que afetam e modificam nossos próximos passos. Gratidão!

 

 

Blog da Cena

Por Miguel Anunciação*

De Ribeirão Preto/SP, o palhaço Bisgoio foi exibir Sananab. Só aparentemente assemelhado a muitos outros palhaços, este é dotado de uma chama, uma aura que, se não é explícita, o des/identifica, de imediato, da maioria. E o público percebe, e saúda com calorosos aplausos. Taí um daqueles trabalhos (e/ou temperamento artístico) que basta ver uma vez para saber que merece todas as melhores recompensas que seu meio possa conter. 

 

 

 

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